sábado, 15 de março de 2014

Como dar mesada para os filhos?

Tenho visto muita distorção em relação ao uso da mesada e isso me preocupa. O assunto é sério, merece atenção e informação. Vejo famílias adotando certas “metodologias” que comprometerão a relação das crianças com o dinheiro e seus desdobramentos.
Explico: fazer da mesada instrumento de condicionamento infantil é o caminho mais fácil e desastroso dentro das relações humanas. Um exemplo dessas práticas é vincular a mesada ao cumprimento de tarefas ou condutas sociais.
Esses condicionamentos ferem o ato de educar e passam longe da Educação Financeira Infantil. Adotar a mesada ou o oferecimento de dinheiro pegando o atalho do “toma lá, dá cá” é uma decisão preguiçosa!
A mesada deve ser uma ferramenta na aprendizagem financeira e não deve, jamais, ser usada como objeto de troca. Perde-se todo o sentido, por exemplo, quando a vinculamos ao desempenho escolar, como punição a comportamentos ruins ou recompensa por atos de cidadania.
Educação não é troca comercial
Ás vezes fica difícil entender a barganha que é feita por algumas famílias. É antipedagógico atrelar perda ou ganho de dinheiro da mesada a ações cotidianas naturais como tomar banho, reclamar de alguma coisa, desobedecer e, pasmem, perder alguns centavos da mesada cada vez que for para a cama dos pais à noite.
Não critico aqui a intenção dos pais, pois acredito que sejam as melhores, mas como educadora eu preciso trazer outras informações com o objetivo de enfraquecer tais métodos, estimular a reflexão e a busca por condutas mais apropriadas.
Vejo que, por desconhecimento de práticas mais adequadas ou por entenderem as relações humanas sob a ótica capitalista, muitos pais acabam se perdendo quando o assunto é dinheiro. No futuro ,as chances de dificuldade de relacionamento pessoal e de trabalho por parte dessas crianças é algo a ser pensado. Lembre-se que os exemplos na infância possuem um peso grande na vida adulta.
As condutas dos pais formam, fixam crenças, norteiam escolhas e ações de seus filhos. A mente infantil absorve todos os estímulos rapidamente, os quais contribuirão para a formação do Eu. O que foi absorvido se manifestará mais tarde em pensamentos e atitudes.
Quando o dinheiro é associado de forma equivocada com cooperação, respeito, expressão de emoções, autocuidado, responsabilidade como cidadão, as crianças estão sendo condicionadas a fazerem tudo em troca de algumas moedas. Esse não é o conceito inteligente de mesada.
Essa é uma forma perigosa de compreender a vida e seus propósitos. Onde ficará, por exemplo, a solidariedade e a livre cooperação na cabeça dessas crianças?
Verdadeiras relações humanas não encontram ressonância no mercantilismo. Não se compra respeito, tolerância, fraternidade ou amizade sincera. Muitos estão confundindo a realidade, pois permanecem distraídos com a massificação de tudo e acabamquantificando as relações com seus filhos.
Atalhos e distorções perigosas no uso da mesada
Educar um filho dá trabalho mesmo. Tem momentos em que o cansaço fala mais alto e se não estivermos centrados em nosso propósito de formação, acabamos optando pelos atalhos: cedemos às birras, damos presente porque queremos sossego, temos atitudes baseadas no senso comum, não colocamos limites, compramos porque todo mundo compra, “compramos” o comportamento e o cumprimento de regras e por ai vai.
Só que educação envolve a formação do indivíduo em sua totalidade. Educar integralmente nossos filhos é desenvolver o senso crítico, prepará-los para que enxerguem além do óbvio. Só assim construiremos caminhos para uma vida mais leve, feliz e longe das distorções que vemos por aí.
Distorções essas que a maioria insiste em chamar de evolução, modernidade e outros adjetivos atraentes. A família é a base, ela é decisiva para a formação de cidadãos conscientes e mais saudáveis emocionalmente. O contrário disso é regressão!
E a mesada? Educar financeiramente é ensinar que o dinheiro é um recurso finito e necessário. Que, quando bem compreendido e administrado, nos proporciona uma vida material confortável e qualidade de vida.
Dinheiro é um meio e não um fim em si mesmo. Para tudo isso é preciso mudar modelos internos que muitos de nós, adultos temos! E tudo isso começa com a mesada. A Educação Financeira Infantil começa dentro de cada pai, mãe ou responsável.
O tema chega a ser desconfortável, pois toca em pontos sensíveis do nosso cotidiano. Mas é preciso colocar o assunto em pauta para a construção de novos modelos. É o que acredito como mãe e educadora financeira!

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