Você já falou ou ouviu alguém afirmar que “Dinheiro não traz felicidade”? Será que o antigo
dito popular está correto? O que está por de trás desta afirmação? Penso que a
questão precisa ser ampliada e é o que proponho neste texto.
Era uma quinta-feira à noite. Estava iniciando mais um
workshop de orçamento doméstico com duração de quatro horas. A sala tinha
aproximadamente quarenta participantes, alguns analisando o material, outros
conversando baixinho.
Notei que duas pessoas desconhecidas travaram um debate
particular onde um senhor já grisalho comentava com uma moça que estava ao seu
lado: – Dinheiro não traz felicidade! Não se engane minha filha,
dinheiro não traz felicidade!
Poucos ouviram o que a moça argumentava, mas a conversa
tomava proporções crescentes no tom e volume até que todos na sala estavam
atentos à discussão. Logo, comentários vinham de diversos lados. Alguns tomavam
partido do homem grisalho enquanto outros apoiavam a moça que negava a
afirmação.
Você acha que dinheiro traz
felicidade?
Deixei a discussão chegar ao ponto de ficar bem acalorada e
intercedi prometendo que iria tratar do assunto ao longo da noite. Estranho,
não é mesmo? Pessoas que a pouco haviam se conhecido e, por estarem prestes a
participar de um curso sobre finanças pessoais, já tinham pré-definido alguns
conceitos e estavam convictos sobre o que o dinheiro e a felicidade podem ou
não trazer as pessoas.
Você já pensou sobre isto? Se você estivesse na sala,
ficaria do lado da turma que diz que dinheiro não traz felicidade? Ou estaria
do lado da turma que acha que dinheiro traz felicidade?
Ah, ia me esquecendo de outro participante que, empolgado
com esta discussão, disse que o dinheiro compra até amor! Você tem ideia do
entrevero que se sucedeu? Depois de rápido debate truncado, todos concluíram
que dinheiro não compra amor… E nunca irá comprar! Será que foi isto que o
senhor grisalho quis dizer? Bem, mas isto é outra história.
O dinheiro aproxima você de suas
necessidades e desejos
É fundamental ter claro que meu enfoque é pelo lado
econômico, pois felicidade sentimental, emocional, psicológica, enfim, aquelas
realizações como um carinho, um afeto, amizade, amor, ou a falta disto terão
outros direcionamentos de estudo e não estão à venda. Neste caso, deixo aos
psicólogos e terapeutas para trazerem as respostas, ou, como de costume,
questionamentos.
Meu principal foco se prende na importância dos óculos e do
livro para uma boa leitura; no filme e no cinema para o desejado
entretenimento; no alimento e na geladeira para comer algo gostoso; no
restaurante e no cozinheiro para matar a fome; ou seja, na relação econômica da
coisa.
Aliás, a economia busca, através da teoria, responder como a
pessoa irá satisfazer suas necessidades. E, se conseguir satisfazer, terá
realizado algo importante para si, atingido assim um contentamento com o bem
estar – e será assim alegre e feliz.
Seu padrão de vida diz muito sobre você
Esta teoria apresenta estudos em que correlaciona a
felicidade ao meio social das pessoas. A teoria nos diz que uma pessoa que tem
uma renda maior que seus pares (familiares e amigos), terá uma situação
econômica social favorável. Em contrapartida, se esta mesma pessoa tiver uma
renda menor que seus pares, a situação será a inversa.
Na prática, o que este estudo quer nos mostrar é a relação
entre o nosso padrão de vida e nossa relação social. Quando comento sobre este
assunto em palestras e cursos, costumo dar ênfase, em tom de brincadeira é
claro, ao cuidado que devemos ter com as nossas relações.
Sempre é um desafio lidar com este assunto muito polêmico!
Não estou dizendo que se você possui uma excelente renda e muito dinheiro, não
poderá ter amigos sem grana. Não! Isto é comum, principalmente nas relações
familiares.
Porém, afirmo que os hábitos e costumes vão depender do seu
padrão de vida, algo que difere de pessoa para pessoa e que, no fim das contas,
costuma ser o gerador dos círculos sociais, justamente em função de interesses
em comum entre estes grupos.
Há influência das relações sociais no
padrão de vida?
Digamos, hipoteticamente, que o senhor grisalho tenha uma
renda de dois mil. Com este dinheiro, é possível suprir todas as suas
necessidades básicas e ainda ter uma pequena sobra. Contudo, não consegue
acompanhar seus amigos, que todos os anos fazem viagens para a Europa, costumam
frequentar restaurantes e bares luxuosos duas vezes por mês e possuem carros
caros.
Ele está “por baixo” da sua relação de amigos e, por
consequência o dinheiro lhe parece não ser seu aliado, mas sim seu maior
problema para poder estar na companhia dos amigos.
Por outro lado, quem sabe a moça também possua uma renda de
dois mil, porém seu círculo de amizades seja ainda de estudantes e pessoas com
gastos mínimos por mês, o que permite a ela acompanhar todos em suas demandas e
ainda pode ter alguns luxos extras além dos seus amigos. Percebe?
Este estudo econômico pode parecer um pouco cruel, mas pense
um pouco e veja ao seu redor. Será que está errado? Já vi muito casos de
pessoas que entraram em grandes problemas financeiros exatamente por tentarem
manter um padrão de vida que era incompatível com a real possibilidade.
Carro novo a cada dois anos, presença constante nas baladas,
viagens, escolas particulares mais caras, enfim… Tudo pelo social! E no fim das
contas, o que aconteceu? Muitas dessas famílias literalmente quebraram.
Então, qual será a relação do dinheiro com a felicidade?
Será que não há um grande equívoco do que fazer com o
dinheiro e de como ele deve ser utilizado para trazer a nossa felicidade? Fica
a questão. E já dou uma dica para a resposta: dinheiro não é o fim, mas um meio
de satisfazer as nossas reais necessidades. Portanto, ele não serve para
mantermos o status social. Se assim for, o dinheiro poderá trazer infelicidade.
Se você ainda não tem claro se dinheiro traz felicidade,
acredito que deve achar estranha a situação de pessoas com grandes fortunas que
se encontram em depressão e/ou tomadas pela infelicidade. Ou, de forma oposta,
pessoas que vivem com condições econômicas no limite da sobrevivência, mas
repletas de felicidade e com amor para dar e vender. Como explicar isso?
Para estarmos preparados para entrar no debate do senhor
grisalho e da moça, antes de tudo é preciso esclarecer o significado de algumas
palavras como: felicidade, dinheiro, desejos, necessidades, posição social e
padrão de vida.
Sobre desejos e necessidades, bem como posição social e
padrão de vida, já dei uma pincelada, então irei me ater às questões
específicas de felicidade e dinheiro.
Definições clássicas contextualizam,
mas não explicam tudo
Recorri ao dicionário para literalmente ter os significados.
Para felicidade, há muito que comentar, mas em resumo temos o estado de
perfeita satisfação íntima, contentamento, grande alegria, grande satisfação,
bem estar e realização. Há vários significados, mas fica notório que a
felicidade vem de dentro e não de fora.
A felicidade é gerada em nós e não nos outros. Assim, fica
claro que a felicidade é um sentimento que cada pessoa tem sobre algo que a
satisfaz. E me parece que é exatamente este o ponto de equívoco de muitas
pessoas. Espero que não seja seu caso.
Já o dinheiro, ah o dinheiro… Tão desejado, não é mesmo? Ai
é que está o problema. Ninguém, eu disse ninguém, deseja o dinheiro por si só.
O que desejamos é o meio para satisfazer nossas necessidades.
Ou será que podemos comer, beber, nos abrigar, nos
transportar diretamente com as notas e moedas? Claro que não! Mas estas notas é
que irão nos habilitar a atingir nossos objetivos e realizar nossos desejos. O
dinheiro é usado na troca de bens e serviços.
Em resumo, o dinheiro é o que recebo pelo meu trabalho e uso
para satisfazer minhas necessidades e atender meus desejos. Esta “coisa” usada
na compra e venda de produtos é apenas um meio e jamais deve ser considerado
como um fim. O ruim da história é que muita gente (a maioria, infelizmente) não
sabe o que realmente deseja. E por não ter isto claro, busca ter dinheiro.
Notou o grande problema? Esta pessoa está buscando o meio de
atingir o que não sabe… Uau, que loucura! Mas é isto mesmo, e ainda pior: esse
indivíduo se preocupa em suprir os desejos do seu círculo social. Meu Deus!
Tudo errado e, por óbvio, surge ai um motivo de grande infelicidade e
frustração.
Como buscar a felicidade, então?
O que devemos fazer para buscar o que realmente nos fará
feliz e utilizar o dinheiro como um meio para realizar e atender nossos
desejos? Bem, tenho três sugestões para te dar.
A primeira é buscar a felicidade nas coisas não materiais e
que sociabilizam todos. Coisas essenciais que trazem grande felicidade como um
verdadeiro amor, como uma família harmoniosa, boa saúde, a contemplação da
natureza, enfim, há muito para ser feliz de forma não material.
A segunda dica é a necessidade de revisar as exigências
econômicas de seu círculo de amizades. Será que elas estão compatíveis com a
sua renda? Em outras palavras, seu padrão de vida está compatível com sua
renda? Talvez você possa dizer “Mas eu não
quero perder isto!”. Bem, então a saída é buscar mais renda. É uma
questão de equilíbrio, entende?
Mas é impossível viver sem os produtos econômicos, certo?
Lembra-se dos óculos e do livro? A terceira sugestão, e talvez a mais prática,
é que você faça a “Lista de Necessidades e Desejos”. Algo bem simples
em que você possa ter claro o que de fato deseja.
Na lista de desejos, que pode ser em uma folha de caderno ou
computador, você deve colocar:
O que deseja;
Porque precisa;
Qual o preço?
Se quiser, ainda pode adicionar o prazo para atingir o que
deseja e também dar um grau de prioridade, mas isto já é um refinamento. Vá em
frente e, se ainda não fez, faça já a lista.
Conclusões
Se você valorizar o dinheiro que possui, gastá-lo de forma
racional, ter claro o que pode ou não realizar, independente dos amigos, e
gerir o dinheiro e entender que ele é um meio de satisfazer tuas necessidades,
tenho certeza de que o terá como aliado. Assim, você realizará muitas coisas. E
claro, isso trará conforto, tranquilidade e… Felicidade!
Para o dinheiro trazer felicidade, ou no mínimo facilitar,
tenho dito que planejamento e disciplina se fazem necessários. Isto está
inserido na administração financeira pessoal e faz parte do orçamento
doméstico, que é muito importante para você e sua família.
Lembre-se:
o dinheiro traz felicidade, mas isto depende de como você o enxerga, respeita e aproveita.